terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida

Como se estreasse um novo gênero literário para o país, o livro “Memórias de um Sargento de Milícias” foi sendo publicado, inicialmente sob estrutura folhetinesca, a partir de 1852. Seu enredo traz aos brasileiros uma nova abordagem: ao construir figuras populares – com destaque às camadas inferiores da sociedade -, o autor revela a “alma brasileira”, capaz de dar um “jeitinho” para resolver qualquer problema. E partindo dessa visão, cria o primeiro personagem malandro de nossa literatura (Leonardinho), que podemos considerar um anti-herói. Mas não é apenas essa característica que diferencia a obra das demais de sua época. Surgindo ainda no período que nomeamos “Romantismo”, o livro de Manuel Antônio de Almeida não apresenta idealização de seus personagens, ponto marcante dos “romances românticos”. Mesmo as mulheres do livro – tão perfeitas e idealizadas na fase romântica – acabam sendo apresentadas como feias.

A história mostra ainda uma visão um tanto crítica da sociedade brasileira – o que já começa a dar pistas dos movimentos literários que estavam por vir -, e mostra personalidades mais reais, isto é, já não há heróis ou vilões, mas caracteres impulsionados por suas necessidades, sejam estas referentes à fome ou até mesmo a um desejo de ascensão social. Com efeito, “Memórias de um Sargento de Milícias” acaba se constituindo em um romance satírico, no qual a sociedade do Rio de Janeiro colonial é retratada em tom humorístico – o que podemos notar facilmente em diversas passagens da obra.

Quanto ao seu título, “Memórias de um Sargento de Milícias”, deve-se ao fato de o personagem Leonardinho (o protagonista) ter se tornado um sargento da guarda carioca.Ainda que não esteja escrito em primeira pessoa, como sugere com “memórias”, a palavra deve ser interpretada mais por sua significação íntima da visão dos fatos vividos pelo anti-herói. O protagonista, Leonardinho, já representa, desde o nascimento, uma figura de origens caricatas. Nascido a partir de “um beliscão e uma pisadela” (costume popularesco da época), já nasceu com “maus bofes”, como afirma sua vizinha no enredo, e vai aos poucos sendo apresentado como um vadio. Fora abandonado pela mãe e pelo pai, e criado pelo padrinho, que era bem estabilizado financeiramente – apesar de depois descobrir-se a origem vil da quantia. Leonardinho não é, portanto, um personagem típico. No desenrolar do romance, ele passa pelas mais diversas aventuras e confusões, mas sempre sai a salvo - é protegido -, e não deixa de lado essa sua velhacaria.

Conclui-se, dessa forma, que Manuel Antônio de Almeida fugiu completamente do ideal romântico nessa sua única obra, e é certamente por esse motivo que a história de Leonardo Pataca não foi bem aceita inicialmente, reportando com ironia os costumes de uma sociedade em transição.

Tainah de Souza Domingues (nº26) - 1º ano “A”

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